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Armando Pinho

GUELRA

GUELRA

ARMANDO PINHO

Produção  ARTE TOTAL

Supervisão Artística: Cristina Mendanha  
Concepção de Vídeo e Imagem: Play Bleu  
Consultoria de movimento: David Ramalho  
Apoio dramatúrgico e consultoria: Sandra Andrade  
Assistência de produção: Monique Augusto e Emília Correia  
Agradecimento: Sr. Aníbal Afonso (cedência de espaço para o vídeo)

Portugal - Braga Julho 2016

16

ANO

Período: 12/06 - 17/06

Apresentação: 17 Junho às 19:00

Local: Arte Total

2016

O abandono é um estado, uma condição, um lugar. Há lugares abandonados, lugares de abandono, lugares do abandono. Todos os lugares do abandono são feridas que calam e falam, ocultam histórias e denunciam mistérios, inaugurando túneis e pontes com outros espaços e tempos. As fendas intrigam e seduzem com seus enigmas, da mesma for que é irresistível espreitar por uma frincha que liga um exterior e um interior.
Procuro lugares do abandono que me impelem a indagar, a cavar mais fundo. Perante a fenda ferida, suturo ou abro mais, rasgando? I dig holes, I dig graves. Cavando por demanda e por esquecimento, acho indícios e vestígios ou enterro segredos e tesouros. Sit Tibi Terra Levis - que a terra te seja leve. E abandono-me no fascínio da ferida, até que o brilho da sua beleza me cegue e a negritude do seu abismo me engula.
O fascínio da ferida do abandono é o fascínio da existência. E o “L’être abandonnée” de Jean-Luc Nancy vem ao meu encontro, recordando que o abandono é condição de existência e do seu pensamento. Nós nascemos no abandono, somos definidos e destinados pelo abandono. Sempre o soubemos, de resto, tal como o souberam Hegel, Nietzsche, Beckett. Prometeu foi abandonado por ter roubado e partilhado sabedoria; Édipo e Moisés são filhos do abandono; Cristo revelou a origem da sua existência no abandono: Eli, Eli, lama sabactáni.
Amor e abandono estão por isso interligados. Se só o amor abandona, será então na possibilidade do abandono que se conhece a do amor: “La seule loi de l’abandon, comme celle de l’amour, c’est d’etre sans retour et sans recours.”
Mas preciso lembrar-me ainda dos acrescentos de Giorgio Agamben sobre o abandono: o abandonado, aquele que é posto à margem, que está fora da lei, fora da normalidade é, ao mesmo tempo, o que está livre, o libertado. Os lugares do abandono são, por isso, lugares de desvio, contradição e destabilização, que confundem realidade e ilusão, matéria e potência. O abandonado deve, enfim, entregar-se à sua própria voz e ao devir do acontecimento.
And I just keep digging.

Fotografia Play Bleu

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